Sérgio Moro pede desculpa por “polêmica”de áudios de Lula e isenta Dilma

Depois de ter tomado uma das decisões mais controversas da Lava Jato - a divulgação dos grampos telefônicos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 16 de março, incluindo uma conversa dele com a presidenta Dilma Rousseff -, o juiz federal Sérgio Moro pediu desculpas pela "polêmica" causada.
Em ofício enviado ontem (29) ao Supremo Tribunal Federal (STF), o magistrado, responsável pelos processos da operação na primeira instância em Curitiba, afirmou que “jamais" foi sua intenção "provocar tais efeitos", em provável referência aos protestos contra o Governo engrossados após a divulgação dos áudios na TV.
Mais à frente, Moro afirma que a retirada do sigilo dos grampos não teve como objetivo “gerar fato político-partidário, polêmicas ou conflitos”. Na peça, ele também admite que pode ter “se equivocado em seu entendimento jurídico” com relação à divulgação das conversas contendo autoridades com foro privilegiado. Moro isenta Dilma de qualquer intenção criminal, mas reafirma que as gravações deveriam vir a público pois mostram que Lula estava tentando obstruir a Justiça.
O documento de 31 páginas enviado nesta terça-feira é uma resposta ao pedido de informação feito pelo relator da Lava Jato no STF, Teori Zavascki. Dias após a divulgação dos grampos, o ministro Zavascki solicitou que toda a investigação contra Lula que corre na Justiça Federal do Paraná nas mãos de Moro fosse remetida para o Supremo. O ministro também criticou a divulgação de conversas envolvendo autoridades com foro privilegiado, como a presidenta Dilma e ministros. Além disso, ele usou seu despacho, em 23 de março, para criticar a decisão do juiz paranaense. "O que se infirma é a divulgação pública das conversas interceptadas da forma como ocorreu, imediata, sem levar em consideração que a prova sequer fora apropriada à sua única finalidade constitucional legítima, muito menos submetida a um contraditório mínimo", criticou Zavascki. "Não há como conceber, portanto, a divulgação pública das conversações do modo como se operou, especialmente daquelas que sequer têm relação com o objeto da investigação criminal". Uma das mais criticadas foi uma conversa entre a mulher de Lula, Marisa Letícia, e um dos filhos do casal.
Na conversa mais controversa (leia abaixo), registrada na véspera da posse do petista, a presidenta diz que irá enviar o termo de posse de ministro para que ele usasse "em caso de emergência". Além das consequências políticas, a liberação dos áudios já teve efeitos legais. Foi citando as gravações que o ministro do STF Gilmar Mendes decidiu impedir que Lula tomasse posse como ministro da Casa Civil – o que lhe garantiria o direito de ser julgado apenas pelo Supremo. Mendes também acusa a presidenta de "fraude" pela nomeação. A decisão de Moro de levantar o sigilo das conversas também foi duramente criticada por juristas, que também atacaram a quebra de sigilo sobre conversas pessoais sem aparente   e até ministros do Supremo. Além de Zavascki, Marco Aurelio de Mello também a achou inadequada. Já Lula acusou Moro de querer destruir sua imagem.
No documento enviado ao Supremo, Moro se defende da acusação de ter extrapolado suas atribuições ao divulgar os áudios da presidenta, já que ela tem foro privilegiado, dizendo que não há indícios de crime cometidos pela presidenta, mas apenas de Lula: "Apesar desse diálogo interceptado [entre Dilma e Lula] ser relevante na perspectiva jurídico-criminal para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já que indica o propósito de influenciar, intimidar ou obstruir a Justiça, no que se refere à excelentíssima presidente da República, não há qualquer manifestação dela assentindo com esse propósito”. Em outro trecho ele diz que o levantamento do sigilo foi feito para "prevenir novas condutas do ex-presidente para obstruir a Justiça, influenciar indevidamente magistrados ou intimidar os responsáveis pelos processos".

Mais áudios

No dia da divulgação, Moro afirmou, no despacho em que autorizava a divulgação dos áudios, que "o levantamento [do sigilo] propiciará (...) o saudável escrutínio público (...). A democracia em uma sociedade livre exige que governados saibam o que fazem governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras". Ele se referia aos diálogos em que Lula conversava sobre maneiras de frear a força-tarefa da Lava Jato. No documento enviado nesta terça-feira ao Supremo, Moro afirma ainda que existe uma “quantidade bem maior de diálogos interceptados” que não foram tornados públicos. Este material será enviado ao STF “em mãos e com as cautelas devidas”.

OS DIÁLOGOS

Veja abaixo o trecho do diálogo entre Lula e Dilma
Leia na íntegra o diálogo entre Dilma e Lula que levou o juiz Sérgio Moro a concluir que poderia haver um movimento para proteger o ex-presidente.
Dilma: Alô
Lula: Alô
Dilma: Lula, deixa eu te falar uma coisa.
Lula: Fala, querida. Ahn?
Dilma: Seguinte, eu tô mandando o 'Bessias' junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!
Lula: Uhum. Tá bom, tá bom.
Dilma: Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.
Lula: Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando.
Dilma: Tá?!
Lula: Tá bom.
Dilma: Tchau.
Lula: Tchau, querida.
Outro trecho também sugere, aos olhos de Moro, uma potencial tentativa de tráfico de influência, em um trecho do diálogo de Lula com o ministro Jaques Wagner, segundo relatório da Polícia Federal, em que a ministra do Supremo, Rosa Weber, é citada:
Lula: Mas viu querido, “ela” tá falando dessa reunião, ô Wagner eu queria que você visse agora, falar com “ela”, já que “ela” tá aí, falar o negócio da Rosa Weber, que tá na mão dela pra decidir. Se homem não tem saco, quem sabe uma mulher corajosa possa fazer o que os homens não fizeram.
Wagner: Tá bom, falou! Combinado, valeu querido, um abraço. Um abraço na Marisa e nos meninos...
Texto: EL País
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